terça-feira, 3 de junho de 2014

Poemas, Poesias e Afins

POEMAS, POESIAS E AFINS




Irc de você
A.Esteves/2014
Pratico soluço terapia
Sabe, de soquinhos?
A vanguarda de 30, 40 anos atrás, foi tropicando,
degenerando e nos pequenos intervalos
momento em que esquecia dos espasmos respiratórios,
era pós moderna.
Não me dei mal com o novo, mas não desprezo
remanescentes.
Acho um saco as regras
abomino intolerância
e sigo regras
e sou intolerante.
Vez em quando, entre um irc e outro, o mediano me convence muito
e vez em quando o superior me cansa, me mata um tanto
de desentendimento - mesmo compreendendo perfeitamente.
Pensando bem minha última crise de soluço aconteceu três ou quatro anos atrás...
Comi arroz frio, engolido apressado e salgado por lágrimas...
Creio não me referir ao soluço propriamente dito.
Mas a terapia, sim. Sabe? de soquinhos...
Em verdade, em verdade, devo dizer que dopei-me hoje.
Digito agora com os dedos dos pés
e tive ideias para uns pares de poemas
aqui misturados alopaticamente
numa dose irremediável de homeopatia erótica.
Sabe? de coquinhos.
vou escrever uma peça em branco
interpretada por dois louquinhos e um guardanapo.
depois, que se foda o entendimento...
a boca suja o guarda irc napo irc limpa
e os irc dois lou irc quin... voltam pro começo
exercitando a soluço terapia dos maus modos
psicopatas da urbe moderna e completamente ultrapassada
entre burros, canoas e uma enorme vontade de vomitar
a morte dentro de um jarro iluminado por um designer luzern...
Honestidade pura é tacanhice verbal, de caráter nã...
e já era, fera, já foi...
você está fedendo e as putas usam Chanel número 9.
Lindas como as santas esculpidas por traças...
Peço aos corretamente perfeitos que alinhem
meus pensamentos, porque eu...
eu solucei de novo e avancei três casas.
Ao triunfo de Vênus, Agnolo... quase lá.










Estado (out/2014)

Não torço o seu pescoço.

Não cravo as unhas em suas costas.

Não mordo suas carnes altas.
Não beijo mais em nada, em poro algum.
Entreguei a alma ao senhor das vilas sem saídas.
Não ouvi o som do voto dado.
Responsabilizei-me por coisa alguma
e por mim um pedaço de interesse.
Zerei as contas, sem quitá-las.
Vivo no chicote, movo-me de quatro.
A canga sangra minhas gengivas
e lhe dou minha saliva em chávenas de barro.
Não me perco.
Não me encontro.
Não tenho muito o que dizer.
Digo, entretanto, digo...
Sem que me ouçam os destinatários.
Lavro o julgamento em testamento.

E gargalho como uma sombra benta.




Saint! - por Ademir Esteves

Sont!

Je vois tout ...
Je vois la mer ...
Je vois la douleur que vous autorisez .
Cet endroit était la foi de notre amour ?
Mon saint !




trupe
Conjuntura rasa
plena luz opaca
impedimento crônico de uma fenda no buraco fundo
maçante reboliço nas laterais eucéfalas
revolução laica
e parto para dentro
útero que aquece
e nada expele
viro pedra lá
e a roda gira
parada na imensidão
manso
alterado
praguejo pela trupe
e mordo a pele
e mato o grupo
e vivo solto
encarcerado nas manobras desatinadas
conversas convexas
plurais
antigos
atuais
fato!







inspiraçando 

Instalou-se a tardia inspiração.

lança-me a tarefa de restituir,

interferir, manobrar, conjugar verbos anacrônicos

para dialogar com o feito em mim...
em saber daquilo esquecido,
mas farpado e denso em sendo a imagem
auto definida deste...
Depressa demais não resume o existir
de nada, mesmo para os que morrem antes de vagir.
O itinerário inconcebível nesta hora, seria assustador
pudesse relembrado ser..
Constituído do todo, pude vir até aqui
e menos do suposto: sou um pequeno
rebento na coisa inteira,
entretanto soberano na ignorante
importância de justificar o que não é finito,
e estranhamento certo de ir para sempre voltar.





Chora sim, sei tanta verdade nesse pranto, amigo.
Amigo, sabem lá os perdoados;
são iguais a ti
a teu vale gotejante.
Teus ritos manam orações
e ao instaurar contatos,
os serafins, ilusionismo das correntes veladas,
choram contigo.
Pelos mortos no oriente, mesmo que já previsto...
Pelos insultos às cores: de pele, de escolha, de medos...
Pelas falas cortantes em plataformas,
maltratando os desgraçados,
separando os altares, amando a si como a si mesmo.
Pelo próprio coração sem a metade da fé que esperas.
Amigo, meu grato aprendiz...
Chore por ti e por mim,
não com a piedade impensada,
teimando fingir ser neutra
e quebra aldravas que atam as dimensões.
Ensinas-me a lagrimar, com fervores sinceros,
entanto não chores tanto além do sentimento;
porque ai extravasado há mais de ti
e isto já é lamento estragado,
sem função, razão ou veracidade.
É vaidade sem o belo...
é caridade com intenção de retorno
e causa irritação aos olhos, sem merecerem o castigo
de, através da névoa, ver um pranto em construção.
Contudo, te peço, amigo, chore sim o pouco que perdure
e o quanto baste para sorrir a alma.




HINO AO QUE NÃO SE PARIU
Às margens, de katana hirta
o homem do alto da mula irrita:
-Trato feito em jeito torto

de zipar a fala e narrar à comitiva

larguras do inverso passo

anda pra trás, criatura

anda pra trás, ô diabo
daí não se vê ilhas nem se aporta em terra seca
Dorme em prato de zinco
o perdão de reter em si
o que de viver não recorda
era de se saber: pestanas não são asas
e não se podem reter
Põe ouvidos no estribilho..


E o dossel franjado sola ao vento
resvalando a aba torta do chapéu.
Dom de quem fala e também canta
dedilha um hino infindo ao seu Corcel:

O povo põe em concha os dedos ao peito
e num só medo de errar testa a coragem
de relembrar em teimosia, do seu jeito, 
envolto na imundície e sem aragem
Sopra o salmo, hástea de ipê amarelo
aponta pro cimo e pro rio, de novo pro céu
e pro rio - em seu uniforme farelo
do madrigal num concerto far away...

Latiram nos porões das charges clássicas,
a gota d'orvalho sempre intrigante
cortando laminada em seus mugidos,
o som da marginália em tom minguante.
Ré, senhor, resta a catástrofe
Reunimos quase um ato lê-se a sorte
No coreto, a realidade
Ao pescoço cingi em vão o negro corte.
ó ladra atada,
a mão inchada,
cave, cave.
Fuzil, um lago imenso, um tiro tímido
de horror, Florbela Espanca em fera agreste
Sutura a mancha, o pó, um lance químico
Empurra para a morte a quem se teste.
Rebente os nervos velhos, correnteza
Farelo, conduíte, calvo osso
Nos búzios o relato da pobreza
Várzea cansada
Mora na imprensa a cor marrom do ardil
Jesus Cristo, febril!











despertado
De repente despertado.
Menina não poderia dançar o fado,
pranteava a mentira de um coração sorrindo,
Soluço, sem amenizar a calma
dessa mágoa no cristal sumindo.
Queda de braço, lavando roupa em chiado...
Domingo iremos almoçar,
pela jazida enveredar...
Desencana, querido piano desafinado,
deixa balançar a lágrima
que o canto triste é prece à Fátima
De repente adormecido.
Menina lá longe, abandona o acontecido.
Livre, livre, livre...
igual uma andorinha empalhada
enfeitando as flores da sacada.
Invejo quem desperta e adormece todo dia
sem ouvir sequer uma canção de Bethânia,
menina de joelhos seguindo andor
jurando que descreve o amor.



Classificados

Procuro alguém para embalar-me

cochichar um acalanto

suavizar a luz e a música de Tavener

em sua Funeral Canticle...

bebericar na mesma chávena a água benta
rezada por nossos pulsos.
Alimentar a paz e reunir as trocas de mantos
sob o ar frio se aquietando após longo período de insulamento.
Não há salários, registro em carteira ou férias remuneradas...
a não ser que me amar e ser amado considerado seja o pagamento.
Que seja como imagino, apenas gente!
Não tenha idade especifica, mas todas ou poucas,
o necessário é estar e não medir minha sinceridade por minhas rugas.
Tem que ser honesto, fiel a seus princípios
Em contra partida ofereço o mesmo ou mais do mais.
Encontrar a hora certa de falar sobre os astros
sobre a sociedade
sobre crenças
descrenças
sem a ironia costumeira da qual antes me utilizava
sem saber que igualdade não era sinônimo de verdade plena.
Procuro um amor para o que me resta tocável e, esperança de que
permaneça no invisível.
E não pense que sou rico por colocar um anúncio tão longo nestes classificados... Não!
Ganhei este espaço por mérito, troquei por uns versos meus na coluna do caderno C.
Se estiver apto ao cargo dessa quase súplica,
e não considere trabalho ou carreirismo
Ligue para número abaixo ou me adicione no face.
E, em nome de sua hombridade, não tire onda com minha cara.
Não escarneie desse grande homem que me tornei... tão imenso que me exponho ao exame rústico de falsas morais.
Em tempo: fui apontado como possível candidato para as próximas eleições e eu disse não.
Fui indicado para o prêmio Shell e solicitei a desclassificação.
Fui remanejado para a psicanálise e me tornei amigo demais dos que tentaram analisar minhas poucos necessidades.
Também me convidaram para a festa pobre e, enquanto viam ratos nas piscinas, consegui ver um rosto refletido do céu para o cloro. E era lindo, tão lindo em sua ondulação e não era claro. Entretanto, lindo, porque era a ilusão de uma vida infinda.
Sim, meu nome estava na lista dos devedores e meus defeitos foram itens constantes na discussão dos ilibados.
Fora isto, Górecki sustenta a balança e me mantém equilibrado.
Entre em contato, se isto te basta.
Confesso ser a última chance auto planejada. Antes que não tenha mais onde ficar... a não ser no mundo e olvidado por quem, um dia, me reconhecia inteiro.
O telefone:
O link do face: 
Meu nome:










..........
A mata morre. 
Morre a decência.
A competência.

Morre o bicho.

O preço pago, já foi pago, pago, até ser pago pelo último.

Senhor da vida, não da mais pra suportar tanta esculhambação.

É ainda pior, porque faço parte da escória...

E, ironicamente, a minha súplica invalida outras.

Que caiam os ministérios e seus processos.

Que inventemos um dia feliz para os demais incoerentes.
Que o meu cinismo não chegue a ponto de sorrir
para os que me ferraram, sem retorno aos meus recursos perdidos.
A mata queima. 
Meu nojo impera. Regurgito pensando neles.
Impera o asco sobre mim. Regurgitam ao pensarem no eu que sou pensado.
Luta de coisa alguma. Guerra sem princípios.
Antes de ir, peço farto e doente, que não me permitam entregar um Oscar a quem não interpretou as mensagens do roteirista.
Mãos vazias. Sem prêmios.
Sem fósforos. Sem poder. 
Por que, Creonte, fui nascer tão idiota?
Por que valorizei amigos e não as vantagens?
Por que, Medeia, amei tanto ou mais que você e não me dei o direito de matar meus filhos como vingança? 
E me responde a desconfiança: porque matando ontem hoje estaria esquecido.
Só um minuto dura a vida. 
A ideia para ser posta é longa, imensa, mas preciso interromper
pois ainda não paguei as contas do mês retrasado.
Que possa continuar a lamúria quem está com nome limpo e a consciência tranquila.





Pouco a pouco
Naqueles Setembros, tudo que parecia extinto ressurgia.

Nestes Setembros, o que está extinto o é definitivamente.

Tudo emana na chaleira com água fervente. Mas não temos café, não temos chá, não temos setembros para cozinhar.

É dançar na chuva imaginária e bater as cinzas pela janela.



a) Maravilhoso céu
Maravilhoso rio límpido
Maravilhoso sol
Maravilhoso mar calmo
Maravilhoso eu que por nós habito o corpo contemplando
Maravilhosa vida
simples que é, faz a gente interrogar sobre tanto
e esquecer por um longo sono a maravilha de, finalmente, despertar.


b) Roubado o labirinto
atiçaram o furacão,
prezo menos ser levado -
não há adivinhação...
Ô, bebida misturada
traquinando o pensamento
filosofamos em grego
e nos quedamos em vil lamento.
Pasta liquidificada de carne humana
serve de adubo à terra
e pra mais nada há de servir
nem como sumo de guerra.
Para meio entendedor
boa palavra basta
se não for arremedo de ódio
um cisco de amor alastra.

c) Vim da boemia
raça prometida, 'inda primitiva
Vim das noites cansadas, embora construtivas
Do trabalho pra escola da escola pro ensaio do ensaio para o bar
e do bar para o trabalho
Hoje os resquícios dessa maratona fissuram minha pele
meu corpo, minha mente
Hoje sou menos notívago, a não ser as madrugadas abertas para
o pensamento e novos contextos
Não estou definhando
apenas adivinhando que o melhor sempre há de vir
mesmo que ao redor seja menos poético
menos arfante
e totalmente caótico...
'Inda me contexto e sorrio
porque já vivi a tempo de reaprender a viver.

d) Qual é a sua, menino?
Com essa boca de batom
e olhos de ver céu de véu trigueiro?
Qual é a sua, rapaz?
Me dando a mão, puxando o corpo
pra perto desse hálito de parar feira livre?
O que quer ainda, inocente, a mais do que já é seu?
Meus ciúmes, minhas guelras, meus tapetes e cartões?
Os ingressos do show que dirigi?
O camarote no casamento onde canto?
As roupas do espetáculo que ainda não fiz?
E se me falasse de juntar os trapos?
Tenho muitos e ainda não os coloquei para limpar o chão.
Qual é a nossa, nós dois?
Nessa madrugada fria, bebendo absinto falso
e reunindo pessoas que nos enxergam vermelhos?
Pra onde vou depois que a festa acabar e os sinos da catedral
dobrarem meus sentidos infundados e de perfurações 'tímpanas'?
No campanário deixei um bilhete escondido...
Procure, homem de Zeus, e me responda logo:
Qual é a sua, em nós, meu morteiro mascarado?

e) O que fizeram de mim nisto que apelidaram de vida?
até já, todas as dores e fomes foram esquecidas
só a missão me salva - e a ininterrupção da existência.
O que fizeram por mim é inestimável. Porém pequeno demais...
Traição, acusações, roubos, ingratidões...
mas eu também os fiz, percebendo ou não o que era de fato.
Enquanto um centésimo de pensar ruim atravessa o buraco negro,
instala-se a alegria de ter nisto a própria presença em ser eu.
Amo, como um escapulário - unidas as faces - são um só na fé.




No Templo (Ademir Esteves)
A vizinha da minha vizinha
ficou sabendo que eu tinha uns figurinos guardados.
A vizinha da minha vizinha pediu à minha vizinha

o favor de eu emprestar um.

Não gosto muito de desemparelhar meus figurinos,

mas cedi e a vizinha veio escolher.

Dentre todos optou por um longo, de algodão,

lilás e com renda por todo o desenho.

Interpretei uma bruxa com ele no teatro.

E tem, também, um chapéu enorme

no mesmo tom da capa, com mais rendas.

Perguntei se ia a alguma festa à fantasia.

Ela simplesmente surtou num sonoro Não!!!
A vizinha da minha vizinha foi visitar Salomão,
em seu templo, onde as rendas são outras
e não se entra sem pompa.

Engastar...
Engastar, no espaço-tempo, os brilhantes falsos de uma existência.

No seio miscível colidem temperos que não aprazem...

desse modo a decadência impera e a harmonia reusa a luz viva;

faz chagas o amante - arria os mastaréus da gávea.

Venoso, saliência convexa sobre um céu de Brigadeiro.

E numa rua ornada de álamos, pelo escoadouro corre o bom até o ladrão. 

Com a cara de nojo e deleite, testemunho a máxima degradada.

Adoto uma atitude e puxo um som com cheiro - aquela harmonia quadrada

está enfeitada de acordes novos.

Há, também, uma letra. Uma afinação cobiçada nas notas. 

Um diafragma de sustentação tirana, rachando os martelos de Thor.
Impõe inação absoluta. 
Cayme não canta. Dolores não canta. Maria não canta.
Quem canta é a galáxia infinda. O que canta não tem mais importância
para os que em tempo algum se detiveram diante da orquestra.



Casar 

Vamos por partes

são quase cinco porque falta meia informação;

vou esperar, não com tanta paciência, a sua decisão...

depois numeramos

discutimos e assim se agende.

Quem sabe a sorte, nos coloque frente a frente

e decida se, em cinco, nos tornamos namorados.

O casamento, de qualquer forma está com dias marcados 

para logo mais... na sexta parte. Copiou?

Defronte da espera nulo sou.






Repovoar-te
Da minha retina vem o trivial
junto água, junto reciclados, junto poeira, junto pedaços de jornais,
junto fotos, junto livros, junto sobras de alimento, junto esperança de recolocar isso tudo para renascer em outras formas para que a vida não acabe
que o sol não nos maltrate
que o registro fique, caso se repovoe essa chã trincada,
e ao juntar, me dissipo, me rendo ao servir para amar.
O que me contempla é invisível dessa retina
mas completamente imaginado dentro quando sou ânima,
quando dou certo na compaixão
quando me entrego ao silêncio
e sorrio só ou para outrem ou com eles.
Vibra a tentação de ser maior em tão pequeno espaço sendo eu mesmo.















ALARME (A.Esteves - 2014)

O carrilhão esperta o labirinto

tosando ao meio o escondido

em cada pendular balanço

ouço o coro no desafio:

entre ser gente ou infame

um badalo é o bastante.

É suficiente uma hora

para deleitar-me o bandolim.







DEVOTO (A.Esteves)
Nada é comparado com o teu sonoro riso
É tamanha inanidade aquilatada por mim
Trivial morrediço e plácida animação por fim
'Té me assistem o poviléu no corredor-passadiço.
Tudo corrompe o lampiar desse futuro
Amplo, titubeio dentre as alamedas nuas
Aspirando ter em palmo as exatidões tuas
A ver se de mentiras da adoração me curo...
Arranco espinhos para o tronco espetar
Furto um carro, assalto uma conveniência
Levo-me em ti na doidura da concupiscência
tens-me em algemas e faz-me delirar


E és, tão somente um óleo moldura no museu
Volvo dia a dia a quitar ingressos, alcançá-lo
A ver-te na crença de furar o quadro e saltá-lo
E voejarmos aves em tuas vestes, tu e eu

!




VALIDADE
- Hoje tem o calcanhar - que não pisa


O joelho - que não dobra

A axila - que não transpira

Um olho - que não chora

e uma vontade de ouvir sinos.

(Do triste ao sorriso, num instante)

- Hoje eu quero a prosa mais linda que houver,

porque ontem engavetei todos os meus troféus!



S'oemas!
Há um poema fecundo travado em meu peito
Inenarrável em palavras
E vive em todo coração - não tem como negar.
No mais insipido dos homens habita um poema
Sempre
pelo que atinge o cais de sangue
pelo que apoia o velho caído
pelo que o que não se ergue
pela ação deflagrada do mau
não há coração que não seja subúrbio de um poema,
não há, nem pode haver, deficiência no sabor dele:
um poema, pobre que seja, sempre habitará algum lugar da alma
não apenas na tristeza
mas em toda alegria e festa
em toda morte ou nascimento
em toda regra ou lamento
há poema na na colina
e onde no monte pé algum alcança
e também ao nadar contra a tormenta
e no lampejo de alcançar a areia, ali, há um poema.
Há um poema no abastado e no detestado
um tufão arrastando fuligem e lixo
tem poema nele
e nas cataratas e nas secas
e nas cercas e paisagens
e nos leitos e nos espinhos
e na cruz e na fornalha
há poema interessado
poema rasgado ou sufocado
louvado em si próprio como um pedido de amor.
Tem coisas que não sai de ninguém
pois é segredo que não se diz nem mesmo ao pensamento,
e então, poema, não vai à luz do próximo
fica impune, guardado, vociferando silente
entre as ruínas do caos
que um poema asfixiado causa
provocando a dor latente
dos corações onde se eterniza os sentimentos
de um sagrado e único poema.
Eu sou um poema
Você é um poema
e um poema somos em plenitude poética
e acalanto visto quando temos coragem
de olhar de verdade o que o outro vê.






TEM MAIS JEITO NÃO! (A.Esteves/2014)
Os cães uivaram a noite, depois das onze
fizeram um trem atrasado responder nos trilhos
grunhiram os dormentes de calçada


num frio que só a cachaça apaga

saíram das boates as estrofes inglesas

e táxis não suportaram a demanda

a Rainha se virou na cama umas cem vezes

somente após a coceira na cabeça

notou que ainda cingia-lhe a coroa 

o Rei, no quarto oposto usava das mãos

para relembrar os treze anos

também o presidente, exposto aos latidos

regurgitava o jantar da casa do Ministro

- fora muito frisante barato!

o Ladrão, preso na cerca elétrica, fingia uma canção

em italiano ou era celta, não se sabe

as meninas ainda tentaram acariciar os caninos

eles mostraram os focinhos vermelhos

quando era pra ter amanhecido - doido

os relógios voltaram todos para às vinte e três horas

e os cães uivaram a noite
o trem atrasou
dormentes grunhiram
estrofes nos táxis
Rainha coroada
Rei besuntado
Presidente vomitado
Ladrão eletrocutado
Meninas nuas
e ao primeiro raiar do sol
os relógios voltaram para às vinte e três horas
Os cães tinham focinhos vermelhos
e uivaram por toda a vida.





LiqUIdaÇ‬@o.zero
Ademir Esteves 2014‬

1 veio com cadeira


2 chegou com jornais

3 trouxe música no Smart...

4 e 5 de mãos dadas

6 não colocou casaco

7 era fumante compulsivo

8 tinha mais de 40 anos

9 apareceu de calça jeans

10 mancava e exalava jasmim

11, 12, 13 e 14 uma família falante

15 mascava chicletes

16 abria a carteira contava as notas a cada

17 minutos

17 estava com o panfleto de ofertas

18 bebia cerveja

19 acompanhava

20 tinha garrafinha com água

21 pronta para a academia

22 só de olho nas pernas dela
23 e 24 desceram do carro abraçados
25 mordia o lanche do trailer
26 ajeitava a gravata de listras
27 era dona de quitanda
28, 28, 30, 31, 32, 33 uma turma de república
Lá pelas 4 da madrugada a fila já virava o quarteirão...
Quando a loja de departamentos abriu - às 5 e 2 minutos,
só um deles realizou seu sonho...
"Comprar a cafeteira com timer automático."
Mas isso acabou quando desceu do ônibus:
a caixa caiu de suas mãos, se espatifou no chão
e ele lembrou que esquecera a cadeira preferida
da tia Genoveva!




CAUSO DE LÁ DE LONGE
AdemirEsteves2014‬
Te vou contá um causo, meio assim, verseado
O dono daquelas terra tinha fio com manteúda
e ninhum co'a sua esposa rebenta do sardoso delegado
e da sogra mandingueira por nome di dona Uda.
A verdade verdadera é que a véia feiticera
espaiou no tal minino uma reza de quebranto
e o pobre magro, roxo, branco azedo que nem cera
rogava ao Padre Nosso o desfazimento do encanto.
O pai torto, sêo Lorenço, tinha do bastardo distanciação
que era mode não complicá a vivência co'a sua pratroa...
Tinha segredo e não tinha, tudo nóis sabia das fugida do pratrão
mas, vai, isso é comum e muito homê é bicho à toa...
O sucedido é que bão de se ouvi e aos quatro canto espaiá:
Minino, fio do dono, neto da vó bruxa e de apelido Branquelo
teve um tempo adoentado, mais pra lá do que pra cá
e foi levado prum curandeiro moedô de miiú, sabe como? Farelo!
Assim mêmo que entendeu, sabedô como o sinhô,
o cura afarinhava os miios e ensacava o fubá.
De modos que oiô o magricento e rapidim adivinhô:
- Tem amarro dos brabo, se num morre, hei de curá.
Traga lá uns par de erva, escrivinha pá se alembrá...
vai um chumaço de arruida, uma cacho de guiné,
um fardo de capim de chêro e u'as flô de manacá,
maisi um teco de parma São Jorge picada com munta fé.
Tomém perciso de gamela, grande anssim. Enche de sal.
Adespois de aminhã, na hora d'ave Maria,
vorta com rapainho em linho tudo vistido igual que nem o cal,
e o resto é cá mais eu que rezo de noite e trabaio de dia.
Má num sei se distino ou marvadeza da mardade
de tarde do ôtro dia, Branquelo morreu sem ar...
Sêo Lorenço na discrição mandô abri na cidade
u'a cova mei'scundida e u'a preda pra se tampar.
No sepulto do tadinho, dona Uda foi orá...
Tava lá a mantéuda, o Pároco e a enxada do covero
Só um passo preto do gaio fingia chorá
e de arrepente chegô nas venta d'rosa branca, o chero.
Chegô a noite e o tar prefume naqueles campos cherava,
forte mêmo, de agastá de tanto chêro no ar.
E foi que vei o curandero batê onde a bruxa tava
oiando nos óio dela fez a véia desmaiar.
Arretirou do corpo dela mai de mil alma danadas
era o que fazia dela a dona de tanta ruindade...
A Uda acordô ôtra, veno vuá u'as fadas
que ela arcunhô de gurias de boa vontade.
Abraçada com Lorenço e já por tudo perdoada,
caiu de jueio no chã rogano a bença dus seus
Foi anssim desse jeitim que a noite estrelada
abriu luz sobre os teiados; juro e afirmo por Deus.
Se achegando na fazenda, o pai sem fiô nenhum
Deu de abraçá muita vez a sua triste muié.
Mai dessa vez, isso conto, ela sorriu, foi só um
Pruque adespois veio um cantado, na soleira viu-se o pé.
Era o minino Branquelo, com saúde arriada
e cantante das moda alegre, filicidade com rima.
Num tem mentira ne'uma, é históra espaiada
e a prova é a cova vazia, ninhuma preda por cima.
Vai lá vê, te agaranto. Na casa grande se vive
a pai, a vó, a esposa, o minino e a tal teúda.
Argum marda essa famia, mas num foi impressão que tive.
É festança tudo dia que a véia ficô barriguda.
Tá contado.



...!
Me contaram: fui visto nos arredores da metrópole.
Estava usando um robe branco, uma sandália cinza
e caminhava para a borda do rio morto. 
Começou a nevar, mesmo assim continuei indo.
Passaram por mim caretas espertos com galochas,
gangues soltando fumaças espessas e também uma velha senhora
numa bicicleta de quatro rodas.
Lembraram de dizer dos grupos nos guetos
olhando estranhamente para a figura andante.
Estava bonito, um dos contadores permitiu
veladamente atentar que havia um meio sorriso
nos lábios rachados.
Sumi rio adentro, como se houvesse uma escada submersa...
Horas depois emergi na margem oposta.
Robe cinza, sandália branca e cabelos secos
derramando movimento pelo ar.
Me contaram: beijei um cavalo de crinas fartas,
dancei com uma família de escorpiões e comi frutas nunca vistas.
Até cantei alguma coisa do tipo:
o belo é belo quando enterramos as mágoas
e não temos mais pragas para difamar o próximo.
Eu pensei, cara - é verdade!
Daquele lado eramos eu e os pensadores,
daqueles que de tanto pensar, voltaram ao simples
e se regalam sem narrativas.
Me contaram e eu acreditei.
Por isso estou deste lado do mundo...



إنفجارات


Meto um dedo no buraco da Terra e ela explode...
Um homem mudo me faz perder a fala
Um mundo surdo não ouve meu grito...
Mas a mordida dada, arrancou um naco de meu cérebro!
Quá!!!



2014



Farinha do saco!

Farinha do mesmo saco!
Misturaram seca e úmida - deu bolo solado.
Triturei, coloquei chocolate
e gemas...
enrolei bolinhos
assei novamente
e então, como foi bom ter jogado tudo no lixo.
Assim são os micros...
transformados, recuperados e aproveitados
somente pelas bactérias.
Oh! mundo, mundo
indigesto para humanos!
Fico com meu coração pulsando por você
e em nossa frente um grande sanduíche...
de metro!
2014


Jacta
 Jaculatória
 ao
 Armagedom
(1989 - inicio do texto teatral dom o mesmo título. A. Esteves) 

Rasga... recorte as terras de fora a fora 
colocando nas entranhas do mundo a minha dor.
O grande cânion sibila de lagartos as feras embutidas
caio pelo precipício
e encontro colinas
Mediano, roubando da caverna o livro dos mistérios
e sua primeira frase garante o raso saber
e desenha o desastre cometido pelo o que vive
a culpa não é de estrelas, nem de deuses
a culpa não existe
e nem o que existe é de fato verdadeiro
“HELI LAMAH ZABAC TANI”
O pássaro serpente engole sua gota de delírios
reclamo, inflamo, deflago
majestoso o sol promete a queima
Rasga... recorte as terras de fora a fora
colocando nas entranhas do mundo a minha flor...
“Agora me submerjo na aurora de tua presença”




Ademir Esteves

http://youtu.be/XMbvcp480Y4
Leia ouvindo Albinoni

E uma nota de tristeza

tocou meu rosto em forma de gotas...

Aonde está meu jardim minha casa de preces?

Agora na hora da minha morte

lagoa brusca de passeio em ondas

















verte chuvisco em roupas vestidas
em varais de corpo e vento de arrependimentos.
Claro como um copo de vodca,
luz de fechar olho. Dor.
Lancinante joio inseparável...
Vem, amiga das asas confusas
abre à frente um arco-íris, arco-íris, arco...
vem depressa, erga-me nos braços
fira-me bem profundamente os órgãos,
dilata meus apreços e os esprema no esquecimento.
Leva-me. Dor! Vem, amiga e conte os passos
num adágio em sol menor
num desalinho de buscas
no derradeiro desencontro
e na calma de um ríspido segundo.
Perdoa seu menino, que ora segue em ritmo
de marcha, em réquiem grunhido de folhas secas.
Benza-me a falta de respiro
atiro pétalas em mim mesmo
sua criança te estende toda a alma
e chora... ai, que dor!
Aonde está meu jardim minha igreja de orações?
está escuro
está escuro
está doendo
está escuro
está doendo
Vem, amiga... amiga, vem, amiga pálida sem cabelos!
Vem... vê agora na hora de minha morte
não há amém.
está escuro
clareando
meu... jardim
e...
e...
e...
enfim a maior lágrima
a música acaba
a quietude impera
(A.Esteves- 2014)



TÃO SIMPLES QUE... (A. Esteves)
Dizer que não avisei não me torna profeta
Nem de perto sou melhor que a própria poesia
Fiz por mim, que sou muito e menos que poeta
Fiz pelo próximo maior e sim e não comete heresia

Por ser meu amigo, não justifico a pouca verdade
O defendo mesmo não compartilhando a dele
Tem longos dias a me apertar a saudade
e quando próximo nem muito abraço me impele

A ser justo nas tempestades das brigas de pouca monta
a esquecer em dois sorrisos o mero inflar do momento
É, talvez, que a partida iminente toda uma vida reconta
e logo há de afastar-nos para novo reinvento

Dizer que estava certo, presenteia-me com meio erro
nessas metades um é um e sabe de si o oposto
todavia sabendo do outro a metade, da minha quiçá espero
um uno desigual com tato, cheiro e gosto

É terrível ter amor e não lhe dar olhos nem voz
Marca o peito, marca a pele, arranca uns anos de vida
Antes dizer corrompido, em tom de riso algoz
que ir embora no tempo sufocado em despedida.

Ore por mim, pela brisa, por um Deus que seja Seu
Não dê nomes nessas cores que na paleta cravaram
são misturas destinadas àquele instante, o apogeu
são no céu mistral constante, que as chuvas de paz alvejaram.




ESCOLHAS Ademir Esteves


Você me dá o direito de, em sendo colibri,


sugar o néctar de sua flor mais doce...

Fosse eu um urubu comeria suas carnes?

Antes de responder, amor amado,

lembre-se que votar é obrigatório

no País democrático e se isto te faz decidir

se a flor está viva ou se as carnes apodreceram...

De qualquer maneira: um pássaro é um pássaro

e um homem... bem, um homem não é.

******



.Não chegarei até lá


.Improvável galo denuncia...

.Fiz de tanto amar

.um quadro de desatenção

.arrebentava dentro 

.e era comum ser correspondido

.base, volúpia, força para continuar

.e gente pra me ouvir sobre uma cadeira

.eu voava e não sabia

.pior que isso, alguém me ama

.quase idolatra e insiste todos os dias

.o retorno

.não posso

.não devo

.não sinto vontade

.o meu querer não conta

.porque vem do instante

.do encontro - há anos não se efetua...

. falta carinho,

.entendimento, compreensão

.falácias impostas

.mas não me liberam de necessitá-las.

.o melhor, o primeiro, o famoso

.trem sem trilhos, isso sim

.cruz elevada de cedro e ferro

.amado e desamado

.força frágil buscando... buscando...

.não chegarei até lá
.e o galo de velho não pode ser cozido.
.me ame
.me chame
.tenha a ombridade de vir
.sua e minha última chance
.a voz galinácea está perdendo o tom
.a melodia
.o compasso
.e agora já posso inspirar
.crer que nasci
.só mais um tempo
.só mais um dia
.só mais ou menos

*********************************


TÍTULO SUPOSTO
Ingênuo, mais do que supunha
resolvi abster-me dos outros...
eles são efêmeros - permanecem o tempo preciso
e não há passado ou saudade meus
arraigados neles como a mim
e a mim pertence
e não deveria porque faz-me mal
todavia estão - células vivas dormentes
que vão decompondo o que fui
decrepitando o que pensei e dividi
Era vida e ainda é
suprimido de ar homeopaticamente
dia antes elevam-me à máxima potência
dia depois zombam do baixo volume
....
mas, pense bem, nem todo som é claro quando gritado
-gosto de tentar adivinhar as notas de uma canção -
-gosto de brincar de tocar com o pensamento cada instrumento
de uma sinfônica-
e tem os outros, que não.
Já não compactuam com o que vivemos
e não estão errados
possuem suas próprias moléculas para reanimar
O ciclo - ciclone irreparável!
Carbono dizimador
todos para os buracos destinados
ou até mesmo urnas de pó.

Miseráveis!
umbigos
símbolo do 'foram gerados com propósitos
e decapitados por sua própria história'
em que eu, ingênuo, deixei as digitais
Ademir Esteves - maio/14


Ab-surdo coe-rente
(A.Esteves - setembro/2013)
Delego a depressão adquirida
a todos vivos ou mortos.
A merda inteira está em não ter coragem de culpar Deus!
Os tais vivos e mortos O vestiram com roupas personalizadas
de túnicas clássicas a Channel...
Style Deus com suas caras pra cada um
estilos individuais, de tendências variáveis.
Seria pecado ateizar-me com tamanho louvor capta-a-lista...
Menos injúria deprimir-me açoitando o evangelho alheio.
Ou o inferno é todo um delicioso sexo em paraíso eterno.
Certo mesmo, mesmo, mesmo é que um berro de Amém-Aleluia
mais ensurdece que reconhece
mais desanima que credibiliza
mais arrasta do que morrer na praia dignificaria
A onomatopeia do tarja preta é borrão de tinta
em quadro de jornal
Erc!
Deprimente - covarde - imbecil
jamais estático!

NEXT!
Não te amo por evasivas.
Amo por um minuto.
É o bastante para prover a terra de sementes.
Se meu ego solicita terapia,
então amar dura menos que segundos.
Sementes perdidas na secura do solo.
Viajo num demônio caricato,
que me representa além da cerca.
Caso não tenha entendido da primeira vez,
não te darei a chance da repetição.
Próximo, por favor! (A.E./ 14)

Desavisado
Dedicaram-me uma canção...
Num livro fizeram-me uma dedicatória
sem muita dedicação...
Propuseram-me uma vida peremptória
num imaginário futuro embrião.
Depositaram-me sentado em trono esplêndido,
e eu entre reis achado
em manto, coroa e pranto desmedido,
exigi em corte um bom machado
para rachar em mil o tempo ardido.
Senil viagem desatenta,
onde nada cantei, li ou foi ouvido.
É o desatino de quem ostenta
e morre em desonra e esquecido
no mesmo trono onde se senta.
Dedico uma canção ao contrário,
um livro desencapado,
um filho num jorro otário
de um prazer antecipado...
ao inumano em pé, no vaso sanitário!


Ver-me tido!
Ademir Esteves
Tenho tido imenso repassado
como estudo para uma biografia.
Em termos claros de um tecelão que fia
em dois segundos me prostro cansado.
Temo que rasa a vida foi-me tida,
um colibri falso de asas tenha morrido
indo tempo vagando tenha corrido
para bem longe de minha partida.
São cansativas as teimas de lembrança,
mesmo que raia em sol de meio-dia,
faço esquecido ao que impor me permitia,
a voz impune dos ensejos de criança.
Quem dera mais à frente, possa descalar
tentar ouvir de novo esses rumores
e não fazer de mim um circo de horrores
nem andejar profano aos homens revelar.
Quem sabe finja ter comigo a violência
rasgando frio a carne da memória
impondo cruel a bronca de uma história,
sem ter, de novo, a pura consciência.

eDiTAis
Quem participa de editais são editados?
Quem monta um projeto é projetado?
Quem estudou é estudado?
Ser humano é pertencer à humanidade?
Mesquinho rima com ninho
ou será apenas um delírio meu?
E eu? Eu não sou somente um idiota.
Sou, também, o tudo que há
menos tudo o que não posso ser.
Miúdo frente ao colapso do homem,
malfadado ao fim e afastado do melhor amado...
que não se faça de tolo, errôneo trilhador.
Se não há tempo para temer-se a morte,
repense no que não se leva, mas há de cumprir
sem festa cada passo cá pisado.
E não é que tem muito barco ancorado
por falta de remador?
Tenha dó, gente pensante...
Os editados são projetados para um estudo da humanidade sem ninho!
(A.Esteves - num minuto de outono que dura desde 1963, ano que nasci)


iN

Hoje investi na resistência

E revi polêmicas entre amigos

Ao quê o tempo, por insistência
Volta a tocá-los em umbigos.

Foram vastos desabafos

unhadas e torpes falatórios

e assim, entre parágrafos
unem-se num grande auditório

E as palmas são para a volta

dos amigos que se tocam

e defendem numa escolta
o beijos que as almas soltam! (A E)

AZEITE
Corrói-me o fado
enquanto leio Pessoa
e almoço pão regado com azeite...
Açoita-me o ventre!
E leio passar por mim
indi
gnados
doentes
prostrados
preconceitu
osos
liberais
assassinatos
bebês nascendo
mães matando filhos
f
ilhos pais
justiça d
e justiça feita pelo ardor
vingança
gente falando em Deus
gente cumprindo a fé
e outros jurando ateus...
os que gritam por sol
os que 
clamam por luares
e de falso caio com o livro aberto
saltando sobre solares.
Analogia da vi
da
e ninguém percebe
que a extinção das abelhas
removerá o homem da Terra
em quatro anos.
Nada mais será tão mesquinho e sujo
a gente brilha por fora
mas fede
 demais por dentro.
Somente um reman
escente raciocínio
me persegue, agora:
_ Chocolate me provoca diarreia!
Acho que sou um Baravel!!!
Mel sem mel
toque de engrenagens
espólio do nada mais...
***
Ah! que bonito copo quebrado
que coração cheio de água
que amor mais amado
Ah! que linda cor no chão do céu
que coração cheio de nuvem
que amor mais amado
Ah! que formosura essa questão
raiz quadrada coração
um xis de amor igual a tu... do! (A.E.)



O CASO DA VIDA ALHEIA

Entrou areia na moela da galinha

e o que não é planície vira ladainha

Lasanha ao molho de água benzida

com arruda do vaso rachado...

E o sermão em missa recital
tem canto de Orixás

Casto é o domador das regras

Bento é o intelectual sem princípios

princípios sem regras doma o casto

e tem intelectuais principiantes

domados por sua beatitude

uma atitude

na altitude das coisas

onde se julga de costas pro espelho

e transam selfies dogmáticos

com a lisura de um caminhão tombado

e a leveza de um crespo alisado

Santo, santo mesmo, é o compositório

transitório de saber do outro

e come veneno de olhos vendados

sem sequer compreender

que morto é morto
e pau que nasce torto, também tem suas belezas...

Eu é que não vou mediar

tenho meu próprio sapato pra gastar
(A.Esteves)


CONVERSA COMIGO
No primeiro tempo
Neste exato momento - Liquido meu deboche antigo
E revigoro um escárnio concebido - Agora, que é hora de regalias...
Dá-me gosto vê-los sombrios - E maledicentes; fartos de espinhos verdes
Que ainda podem ser quebrados à unha. Que rosa ou outra flor sobrevive ao gemido
De um beijo? Mesmo que seja um beija-flor?
Parti de lá, daquele estado de alma asqueroso
E vim para as pedras sobre o mar... A vista é uma harpa de dez tempos
Um tempo para chegar - Outro para ver, mais um para refletir se voo ou não para o fundo da água de sal
E os outros tempos são para o silêncio. Remanejar-me sem rudezas
Eu era cruel e maldito e tudo ficou dito pelo não dito.
Mas ainda os vejo párias, e mesmo retificado por dentro
Agora fora dá-me prazer ver o mau que os homens se causam.
Eu estou no alto do mar. Pronto pra ser vela ou boia e fogo gasoso
Preciso curar essa maldita intenção de ser feliz vendo a doença mental do outro.
Me causa prazer! Eu gozo pragmaticamente diante da dor.
No Segundo Tempo
Lua doida, aqui me tens!
Por não poder apontá-la, sigo-te desde a primeira vez que a vi despida.
Lumiava pedaços de terra, chão de carroça capenga
trepidando o corpo para subir e descer. com socos de cavalgante.
Ia, eu e tralha, do sítio ao povoado e do povoado ia eu para mais longe.
Onde cheguei as luas eram pregadas a postes e ligadas por fios...
Assentado cá, neste tronco de pedra britada, eis que volta-me teus brilhos
dentro do não sei o que me transformei... Não sinto cheiro de suado milho
'inda mato a sede na fonte da praça
'inda como a fome engolindo saudade!
No Terceiro Tempo
Ah! Bel... ah! Edu... ei, meninos de transa aloucada
Forcem os corpos
Beijem-se garotos e garotos e garotos com garotas
As garotas e garotas ou todos numa só partitura
Que mal há se entre a carne e a alma têm misturas piores?
Vão pro inferno os calculistas, porque meu pau se une ao corte aberto
De todos os corrimões, de celas que na sombra me congelam a santidade...
Abram as pernas, suem suas pelves e lamba de vírus todos os perímetros
Dessa busca por cheiro e leite.
Venham pra minha língua, todos que quiserem urrar de gozo e que vão à merda os que se trancam mais e mais.
Quero sair desse conforto, sem nenhum romantismo piedoso. Quero o escracho e o despacho
Me tirem daqui de uma vez por vez...
Já não me entendo inteiro, só um terço de mim elucubra;
Todo o resto é sangue vivo.
No Tempo Antes do final
Somos o mesmo homem
Um, na primeira pessoa.
O outro na segunda...
E, finalmente o terceiro, sob as sombras
E todos os dois desertores de guerra.

NASCIDA
Nasceu uma criada esfomeada dentro de mim
comeu todos os meus pinos e insatisfeita,
pondo fé na serviçal que era,
faxinou os órgãos e os abocanhou como dádiva
ao seu Deus!
Fiquei oco... mas ela não teve tempo de assar meu cérebro.
Num átimo doloroso, forçado, expeli a criada pelo reto.
O reto das coisas são para sempre curvas estáticas,
já que não há nada mais para comandar.
A maldita nascida me deixou com o que menos importa
no mundo em que achei ser alguém de certa importância!
Agora uma risada?
Como poderia eu ter escrito isto, ausente de mecanismos necessários?
São Três Poderes inconfessáveis! (A. Esteves/abril/2014)



TROCO POR UM BOM SUSPIRO
(A. Esteves/14)


Calamidade! Minha idade, flores enxertadas
Cala a lamidade, terra de esgoto
Dá-me calade e forrarei o fosso
Calamidade - osso de Mida na unção
do Espírito Santo
bem no coração da barafunda..
Calamidades - dades de atividades
por ai afora suprirão a polpa das catástrofes...
Regurgito expelindo o excedente
assistindo Rigoletto de Verdi.
verde de imobilidade
num cassete remendado com durex
Dura o desastre
mas tudo é bem menor neste descontentamento
e muito maior que o grande suspiro, já.


Aquilo que forra o verso



Aquilo que forra o verso


falta colocar arames

gosto de titubear no foco

para que sombras no rosto

sejam falhas de comédia

Sem luz o verso preso

e ali o funeral da cobra

Uma bomba só

baniu os braços levantados

os que tinham dinheiro

mecanizaram a amputação

os outros

aprenderam a se virar com um braço apenas

e a revolução cobriu de espuma negra

os aramados vigentes do verso cadente (A.Esteves)





EU SEI QUEM É VOCÊ – A. Esteves 28/05/13
Nódoa!
Impasse pincelado.
Preciso traço.
Criatura plena.
Rosa desbotada
Em cristal no pano


Lá vai o pintor
Com o parto no braço.
A rosa na tela.
Um fio de cansaço.
E o curador
Sorrindo de lado.
Equívoco de quem censura...
... e não vê que a rosa expirou
Por ter sido desprezada.
Lá volta o artista
Temendo por sua história
Que somente sua essência conhece.


Canto do Gozo


A.E.

Hoje corro nada contra o andar


A força impune da doença

Que o amor adaptou

Dando quanto tanto a crença

O fato de amar me aconteceu

Assim quais as falanges em vibrações

Em atos desvelados irrompi

Portanto quanto dando ao que amei

Ninguém em igualdade há de suprir

Nem homem, nem mulher e orações

Menos ainda se a alguém cheguei

Com tanta inspiração feita da noite

E falecida ao rio do dia

Hoje corro sob o jugo do açoite 

E morro a esgueirar-me pelas frinchas 

Mas... a guimba lembrança que sorria

Vivo novo as comunhões 

Redor lençóis dando tanto quanto

O fim do início a correria

Urro de unhas no perpétuo encanto.



QUANDO ROUBEI OS OLHOS DE UM PÁSSARO 


Vejo através dos olhos daquele pássaro,

Uma vida abarrotada aqui em baixo...

Mas não consigo parar de alar!

Meu preferido caminho no ar é o redondo,

Volta, meia volta,

Livre em fuga....

Fuga de vento contrário.

Há suspeita de uma poça d’água a esperar minha sede.

Perto dela perigos inconfessáveis...

Pra cima é maior e melhor,

Uma gota de chuva basta para saciar a seca.

Vejo pelas retinas do pássaro cinza:

Homem preso na saída da loja

Confundido com o larápio, só eu vejo;

No quintal com piscina, uma festa pagã,

Todos em sexo redemoinham uns nos outros

E pra mim ainda é mais forte a cena da menina

Pulando o muro da escola pra fumar um baseado.

Apenas o pulo, o muro é alto e ela poderia

Cair morta na calçada quente de sol...

A ambulância assoviando salvação.

A reunião de paletós através da janela ar condicionada.

Choro de velha com falta de gente perto.

Porta de igreja fechada,

Mas no pátio orgia de santos.

Solto um assovio que não sabia que podia antes...

Era de esquecer !

Não pouso, nem me uno a outras asas,

Apenas dou missão à continuidade desse instante...
Moradores de rua disputam uma nota de cinco reais,
Revoga rasgando, dilacerado o vislumbre da posse.
Ainda viajo pelo espaço
Através de olhos mínimos extensos.
Daqui de cima tudo é menos e muito mais,
Mais que a existência,
Mais que a ridícula e importante existência...
Distraiu-me foi o tenor na casa laranja,
Era tão gigante e triste seu hino que cerrei meus olhos...
Quando os abri, o silêncio assombroso de todos os ruídos do mundo
Retornaram.
E por ter roubado a visão do pequeno voador,
Ele não conseguiu desviar da muralha concretizada
E... 
Volto a ver através de mim.
Ademir Esteves/jan./14


Alheio!

Coloque uma arma na minha mão


e certamente o tiro sairá pela culatra...

Porque o que vai puxar o gatilho

é a minha alma

e ela não quer matar

ela não deixa que eu mate

mas levaria a mim, para os confins

da renovação

Pois mesmo que a alma não mate

aceitei que colocassem uma em punho

Por causa alheia há meninos que atiram

para morrer


o desassossego é roda de samsara...



Ao meu amado
(marca d´água em sonho sensual)
(A.Esteves - março/14)
Sertanejo, meu amô, n'o tá na viola dediada
nem no bejo q'cê dá co gosto de fumu-de-rolo
e alambique no caneco da Nadir
Tá no meio du seus óios
e no prefume du seus cabelo 'nelados.
No braçar seu corpo mais o meu
e levá meus sonho pra lá longe.
Na rede deitamo os dois
a noite morena de afague
e a pele rogano maisi.
ô, sertanejo, amô choroso
desce pranto de tão fundo
no meu peito namorado.
Boca gemi e rebenta estrela
qual friagem cuberta de paia
imendada co's nó de capim seco.
Um home meu num ôtro home
na simpliza da sombração
no campo, mugido de gado em prado
e doce de cidra no coração.
Meu amado sertanejo
canta sim pro munto tempo
pr'eu não morrê de um não
.


  • Na
  •  craviola
  •  Landowska 
  • parece
  •  traçar 
  • com
  •  os
  •  ruídos
  •  da
  •  tempestade,
  •  a 
  • cura
  • dos
  •  incuráveis!






INSÔNIA 

Bolero sobre a veste negra

de madrugadas invernas
com cabelos soltos, à míngua

de atestado pré-cavernas...
Tento avançar sem pestanas

atrás da coisa pungente
e ela corre guerreira

e coa o café fumegante.
De dia tira o bolero
e agasalha a pele com branco

é quando vem tanto sono
e as janelas eu tranco.

E as janelas reabro
já tendo o peito beijado

sabendo que sonho é tempo
coisa de ledo agrado.

Grande é o sexo refeito!
Tapando a nudez não há nada

transparência de cor, dissonia...
e de novo de novo de novo a missa sem alvorada.

 (A.E. -2012)


HEXA DE QUE HERÓIS?!
"O maior espetáculo para o homem será sempre o próprio homem.
Eça de Queiroz"
Tô nem ai pra cópulas de vidro
a copa da árvore no jardim arredondou-se para o sol
hexa primavera desde sua germinação
e os mecanismos condutores da razão geral
é chip instaurado
é foto do espaço
na cabeça dos monocráticos
a bola bate na trave
e a corrida começa
fugir não é direito apenas de isocristas.
(Eu homem, eu amando, eu ejaculando
no banheiro público, eu ruminando,
eu homem, eu tótem, eu miniatura)
Ao redor do campo não se faz ola
nem se berra gols
acende, sim, a queima dos periódicos
e a cama infernal está forrada de folhas decompostas
respostas, impostas, nada mais coerente
que a fuga
fujam!
e saberão que não há como chegar
a algum lugar
sem a ajuda do amor.


QUASE UM POEMA EM PÓ SE FAZ
João Da Vida, artista do passado e querendo ser do seu tempo, disse na TV à cabo:

Se TODOS parassem de pagar IMPOSTOS, de uma vez só, seriamos um País com a população na cadeia ou começaríamos a despertar uma real democracia? Simplista? Discutível? Impossível? Não somos minorias!!! Marginais à sociedade não são criminosos, são os que se rebelam e não formam correntes - porque o medo e a estabilidade precária tá bom, vai como vai... e eles lá em cima, não cortam 13º, não se eximem de férias magníficas, não enfrentam fome, frio ou transporte Gomes da Costa... Cavalo dado pode ter dentes podres e morrer em pouco tempo. E a cara de felicidade de quem aprendeu apertar botões nas urnas eletrônicas? Dois minutos depois já esqueceram o número e o nome do brilhante defensor de nossas causas. Tragédia grega: causa e efeito. Entretanto, ficamos sem catarse. Não, realmente eu sei que o buraco é mais para o joelho, que muito há para ser destrinchado e um pequeno depoimento, do tipo cuspida instantânea, atirada como chumbinho não é e talvez nunca seja motivo de interesse. É particular. Exorcizante e imediato. Mas, por quê não? Ok, a mesma língua nem dá pra falar... o que vai por dentro pode ser o mote. Facções soa como motim? Pelo amor de Deus, quem sou eu que perdi o rumo da vez? Talvez, em um nova reencarnação... ou no futuro com a foto estampada e um subtítulo: "artista deprimente, ainda tentou escapar da bala perdida".

GOSTARIA DE INTITULAR O POEMA DE PUTA QUE OS PARIU
MAS FICO SÓ COM O GOSTARIA DE
(A.Esteves/2014)

Na cara do livro multidões imprimem suas digitais
e pouco se dá conta ou se dá conta demais


ou a foto de capa é mais importante

ou, ainda, palavras devastadas arroxando

rebuscadamente ideais, ideias, pompas e circunstâncias

como instâncias de pouco e muito

forte e fraco

bem ou mal... 

e repelido como ignorante da vez,

dou de ombros, classicamente, já que não consigo

alcançá-lo para beijinhos!

Foda-se... eu entendo um a um

e desentendo tudo de uma vez só

Porém, cada qual com seu cada qual

a muito custo pago minhas contas

e meu discurso está preparado 

desde que tudo começou a acontecer

embora não tenha discurso com alvo

e, inevitavelmente, sempre acerto uma flechada

queira sim, queira não
eu me represento e não me represento tão perfeitamente
aliás, vão-se os anéis e de vez em quando ficam-se os dedos
e eu...
o que não dá para esquecer, gente minha,
é que a maior representação do Todo é exuberante
e tem por alcunha: Morte!



COMIGO TANGO
(Ademir Esteves)

Anda (Não deixe minha flauta calada)
traga-me de volta (nem os tímpanos cerrados)...
Convida-me a dançar em seu luto estendido (afastado e esquecido) o tango desse prazer (na cama de pirilampos).
Faz-me melado e sujo (Contudo) impuro e chafurdado...
traga-me (para não ser encantado por outros) de volta
Não deixe minha flauta calada, nem os tímpanos cerrados...
afastado e esquecido na cama de pirilampos.
Contudo, para não ser encantado por outros, anda,
traga-me de volta.
Convida-me a dançar em seu luto estendido o tango desse prazer.
Faz-me melado e sujo, impuro e chafurdado...
Traga-me de volta!
Afastado e esquecido o tango estendido na cama de pirilampos.
O tango melado e sujo para não ser encantado por outros,
convida-me os tímpanos cerrados a dançar, contudo, a flauta calada
soprando ar na bola que gira e rola sem nota, sem alfazema,
sem cama, anda parado.



Plágio do Castelo Azul Oeste do Queimar (A. Esteves)

Os filhos de Órion, velando os critérios e observando
as três Marias
Sobem ainda no pico, embora consigam seus 300 centímetros
Desbravadores, com olhos sempre à frente
não temem em conquistar sua maior experiência:
'puxar os povos da Terra para frente'...
eis que a função oriana, os de pele cobreada e olhos
dourados - águias recônditas - com missões regeneradoras e amplas.
Beijos líquidos dançam de testas ovaladas e voam
para cima e para baixo
acho que são como fumaças minhas e, por crer neles,
meus filhos vieram de lá...
e nenhum filho eu pude erguer ao mundo -
eles me julgariam profeta falso...
"Dos seres do espaço que buscam aperfeiçoamento encarnando-se na Terra, os orianos são a maioria. 'Como povo que adorou o poder e sofreu com tantas guerras, viemos buscar aqui o aprendizado do amor incondicional,' diz Shon Thor."
O Planeta azul e um outro azul gerando o que mais perto
há de chegar-se ao novo.
Senão, o que você acha mesmo que está fazendo aqui?
Não sejamos medíocres e opacos - sua voz é amarga,
mas seu coração... ah! seu coração é sinfonia infinda
de verdades que finge não conhecer.


MORTE SÚBITA 
Ademir Esteves

Sussurro 
porque teus olhos giram em torno da vida
e és bem capaz de não ouvires meu amor...
Sabes tu e bem sei eu 
quais dores foram marcas 
quais sonhos tu me destes em mãos
e eu, por crer em rugas que nos tingiriam as faces,
protelei em benefício de imediatos sabores...
Sussurro
por não querer que ouças tudo
-minha culpa constrange e fere -
tua bela flor será podada, prometo-te
entanto rogo possas vê-la uma vez outra...
Chamo-te - toco tua pele alva e visto meus lábios
nos teus..
A liberdade rouba-te de mim...
Voas!
Sussurro e as lágrimas tombam...
Partes sem nenhum sulco senil.
Grito!
Sereno e só...
Só...


FUI PARA LÁ (A. Esteves/2014)
Dei de cara com o corpo transparente
Não tinha olhos tão grandes, como o imaginário
mas suficientemente luminosos para ver-me por dentro...
ele ou ela, não sei, fez um cumprimento com a mão esquerda,
como se dissesse tchau ou olá.
Retribui com a direita.
O que senti parecia um sorriso,
daqueles medrados e era a minha sensação semelhante.
Refleti se havia solicitado algum cartão de crédito/débito,
desses que nos permitem ler a mente de golfinhos...
mas jurado jamais ter outros cartões (todos quebrados),
decidi que era mesmo telepática nossa comunicação.
Pensou ele: esse seu mundo era exemplo aos involuídos,
através da observação velada nos tornamos cultos e sábios...
vocês foram para os céus e não nos viram
e nós estávamos lá...
Agora, pouco antes de mais um extermínio em massa,
por esta natureza tão machucada,
venho arrebanhar os de boa índole...
não sou poucos, mas raros...
- Eu irei com você?
- Você viria comigo?
Acho que fui... no segundo de dúvida
e ainda trêmulo, vendo de cima o climático redondo
de Lulas geográficos,
as chamas, as águas, as geleiras e mãos erguidas
como se pedissem socorro.
Não vi, não sei, não presenciei se houve resgate.
Moro, nesse momento, num outro planeta
mais árido e com ar a costumar-me...
tudo é luz, mas nem tudo é bom.
Criaturas andam ao meu lado com estranhamento
e cospem faíscas lilases das narinas...
O sol daqui é frio e quando chega a noite, a lua

que antes romantizava meus amores
bronzeia-me de cinza.
E acabaram de crucificar um elemento que se opôs
ao Estado.
Em seu lugar libertaram um filósofo que roubou os livros
de Nietzsche da biblioteca Nacional.
Fico sabendo que não sou perecível se não for assassinado
e que a única doença que falta dominar é a sede do coletivo
em ter mais direito que outros.
Ouvi uma explosão ontem de manhã...
Quis acordar, todavia já estava desperto.

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Sobre dormir e despertar! (A.Esteves/dez/15)
Resguarda-me, amado, na contra mão do dia.
Aplica-me tuas mãos numa reza e aciona a playlist amorfa,
recebendo como troféu o suco denso do perigo.
Se és tão brando ao intervir o mau que chega
para apunhalar-me o ventre e no apogeu recebes o golpe,
então, amado, tu me amas.
Mas já não és meu!

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Uma aldeia em sombra chinesa! (A. Esteves/dez/15)
Capim ouro veste o colo do povo de minha aldeia.
O rio, a mata espessa, formam um terreno em cadeia.
A fala é trincada em rimas das lendas antepassadas...
os olhos atentam hirtos ao revoar das passaradas.
Na cruz fincada lá, há séculos em pau Brasil
amarraram um totem, não como um ato pueril,
mas com a sapiência de uma história boa
com gosto de respeito e sorriso que dá-se à toa!
Minha aldeia não existe, nem resiste ao trago dado
Zumbe com força estranha, no peito me atinge um dardo.
Tão sublime de esperança, que é escrita no barro
e o sereno na noite apaga a letra e nasce em jarro.
Desde quando te carrego, em fatos não comprovados?
Ai, minha aldeia distante, que fica além dos prados:
veja em mim um filho ausente, tão igual no desigual

não voltarei lá, onde jamais estive, por causa de um temporal!

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Ode ao inimigo de(clarado) - (A Esteves - dez/15)
Sim, a depressão é o um desatino do contemporâneo
Em nome dela as verdades criadas tornam-se amplas
Maiores do que pode suportar quem te convive
e te ataca, e te suplanta como gente...
Pior que isso: resgata um sentimento inapropriado
em honra da atenção que se implora a quem
não entende o que está dentro ou fora dessa dupla ação.
Não, não há nada de frustração em mim
eu fiz, faço e farei tudo sempre com a dignidade do bem querer...
Talvez, você tenha esquecido das palavras, dos abraços e da
força que tentei oferecer através da minha própria experiência.
Há uma retaliação sim. Aquela de quem não compreende por
tentar se manter atordoado.
Meu grito, se há um grito é sempre de paz, de junção, de realizar o melhor
diante do que se apresenta.
Claro, querido inimigo declaro, não sou e não serei como você espera.
Doeu, porque a gente deposita no outro a crença da vitória.
Não sou melhor humano que outro humano e, por isso, derramo lágrimas
verdadeiras, mas ocultas, pois que diante da enorme massa o sorriso estará sempre aberto e isso melhora muito o auto conceito.
O começo da cura, se é que há, é ser menos. Ser menos é quase recomeçar a batalha todas as horas. Impingir a outrem os desajustes que criamos em nós, é aprisionar o perdão de quem, provavelmente, nem precise dele, mas que nos faz muito mais decente.
E onde está a ode, afinal?
No amor que não deixo de ter
No segundo de mágoa detida
No gesto de amor que não hei de reter
No saber que viver é forma infinda
É rasgar no peito a declaração inimiga
Ungir as mãos e erguê-las aos céus
Num claro pedido de amenizar a intriga
Arrancar de seus olhos as camadas de véus...


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Acontecendo (AE/2015)

Farto amor que destempera meu dia
reclama a presença
descamba para a euforia
e tem uma sentença:
reorganizar o peito
para que não se afogue
ao suspiro que refeito
tenta soprar o fole.
Farto amor, 'inda calado
versejado no sigilo de nós dois
e lido em prece, não falado
rumo ao beijo louco que vem depois.

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réus! (nov/2015)
Je suis... sim eu sou por consequência. No meio da noite
ouço pio longo, triste e terrível de aves de rapina.
Me entorpeço, suado e temo por meus pensamentos
Elevo à uma imagem criada na minha memória
de um Salvador invisível...
Causei todas as desgraças aos que deveria supor serem irmãos.
E com um copo de água suja, detenho a sede de não pertencer
como grande culpado.
Estaco em mim o punhal da desonra.
E, se todos devem morrer, dia desses, seja para tranquilizar os que vivem.
Olhando para trás. consigo reaver o círculo.
Ele não se fecha e não concretiza a razão.
Será por quê?
Amigos mortos aproximam-se quase no enclarear do dia e sorriem.
Sussurram: Je suis Mariana e sou também, Charlie.
Que é? Que é? Um entreato ato fato?!
O que se há de fazer não está no ódio ou na sensação de indignação...
Um nome auferido pode justificar e tranquilizar tudo.
A base de troca é a revanche de quem pode mais e saciar o desejo de vingança no coração do homem.
Lágrimas, dor, berros, dragas, metralhadoras, preces, céu azul em dia negro... ai! como se reforça a tragédia com suas causas e efeitos.
Mas todos juntos, somos réus à espera do veredicto.


ooooooooooooooooooooooooo

Aos desavisados (A.E./2015)
Marrom nos lábios
fixo em pó de lenha seca
fragmentando a espécie 
e a distância que percorro
desde a semente
Torneira aberta
sem gota saciável
um vácuo cinza
os cúbicos filtrados
repletos de impurezas
Caio na redenção
e a tentação de servir
um jantar vermelho
torna-me flamingo
impetrado na cabeça
Nu e vestido de antiguidade
como vim e sou
e retornarei a ser
depois de viver a imperfeição
uma reta de chegada
o ser humano
sem ser.

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O era! (A. Esteves - dez. 2015)
Sentado na cadeira de balanço, o homem bom, à beira rio
já foi escravo do dinheiro
foi possessivo e traiu no amor
foi rigoroso com seus filhos
e deu palestra no Japão.
Seu sorriso era metade sincero, metade rude
quase uma ironia no canto dos lábios.
O homem bom também já foi membro de câmaras
e conseguiu decretar o asfalto onde a floresta reinava.
Domina cinco idiomas, leu mais do que o próprio escritor,
reuniu em festas centenas de outros homens bons
e sepultou parte da família em mausoléu revestido em bronze.
Correu mundo, passou em sinais vermelhos,
gerou desemprego, apertou as mãos de reis.
Doou alguns milhões à igreja e dela só se recorda
do catecismo imposto quando criança.
Agora, sentado em sua cadeira de balanço à beira rio,
tentando enxergar se nele o que boia é peixe morto
ou excrementos humanos,
o homem bom pensa que irá chorar.
Mas o rio está seco.
A cadeira range e incomoda sua parca audição
e como não consegue levantar e voltar andando para casa,
resta-lhe esperar que venha alguém buscá-lo.
A noite chega para o homem bom...
e ele continua lá sem perceber as estrelas
sem suspirar com a brisa
sem recordar absolutamente de toda sua trajetória.
Apenas balbucia, vez em quando:
- Eu sou o homem bom!


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Febre! (A.Esteves/dez/15)
Acaso o bolero toque, soltarei as tulipas da gaiola.
Seja um tango repentino, livrarei a roxa rosa.
Sendo amor ou quase ele, piano ou viola,
Bailarei inconsequente sobre a música só nossa.
Destilarei veemente o caldo espesso no tanque.
Subirei e descerei tantas vezes bastem
Para secar o pranto e rastelar meu sangue
Antes mesmo que de mim se afastem...
Crendo no som, temerei a partida.
Ah! O prazer de remexer as escritas
e renomear as feridas!
Não é mentira que o passado me xinga!
Tem no sabor das desditas,
o mel das palavras benditas.


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Paródia Cão! (A.Esteves/jan/16)
Solta a língua, lambendo o verbo como a mais pudica
das frases feitas,
vem o cara com o s
apato em chamas e um punhado de gente
crendo que é mágica para seus deleites.
Berra dolorosa sua condição
em redenção ambígua a temer que o socorram
e ao salvar-se seria mortal mais uma vez.
Segue, como astro, pegando fogo alastrado
pelo corpo inteiro.
E apesar da dor latente, rega invés da fala, um riso gasto.
Por ter nome beatificado, range um pensamento estúpido
diante da multidão contente.
Glória, oh, purificação!
A vida que já não lhe pertence,
incomoda agora, a alma treme, finca o chão
lamenta a liberdade que teve ao pisar a labareda.
Vê as cinzas trepidando. O impulso é correr, levitar...
Um cão, com cara triste, quer buscá-lo dali. Mas ouve: Senta!
E, por dura intuição, o cara pensa:
Se quisesse morrer havia de ter vivido!

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Ter Nura (A.Esteves/jan/16)
Complica trazer a Nura para o local divertido,
esse ponto enigmático, aonde escondemos a tentativa
e também a gastura que suas falas teimam em serem feitas
de maneira não costumeira.
Nura, sendo parte crucial do contexto, não nasce de...
cílios postiços, blush pêssego ou produtos da Na-tura.
É genial escondê-la entre as paredes isoladas da memória.
Modifica-se todos os dias. E todos os dias é a mesma.
Ter Nura para interpretar no tablado, é uma ternura fake,
rançosa e ao mesmo tempo glamourosa.
Ela tem cabelos e perucas. Unhas e dedos longos.
Canta afinadamente, mas é tenor.
É uma linda mulher e um homem delicioso.
Perigoso perder-me de amor por eles.
Quando me sentir preparado, dividirei as cenas
com os outros atores e personagens, nem tão cativantes.
Amanhã, fiz uma gênese dela, e depois de amanhã
descubro que seu nome é Aventura.
Nura cai por água abaixo.
Devo recomeçar as pesquisas. 
E o espetáculo nem foi escrito, ainda.

./././././././././././././.

Ó, pra você! (Ademir Esteves / janeiro/ 16)
Dá um tempo. Não me venha com essa de 'tratar' meus escritos.
Tô me lixando pras regras...
Tô dilacerado quando fomento as iras
e completamente zen quando falo do amor
e inquestionavelmente inconformado no momento da situação...
Não precisa compreender. Eu te respeito, mas não acato.
Coloco em palavras pra me atingir.
Se alcança egos ou sentimentos bons dos outros, isso é com eles.
O que me vale é a limpeza desses pensamentos inúteis.
Jogo fora mesmo!
E não há um idiota que seja pra me impedir.
É pra mim. E de repente pra quem vai além das formas.
Simples ou rebuscado - age o instante.
Vai me dizer que o preço que pago é mais alto que uma dúzia de bananas?
Quer instalar conflitos, que algumas vezes não há. Poxa!
Poxa! (Queria dizer um palavrão, todavia um apropriado não surgiu).
Poxa, não sou uma vara de pesca
vergando sob o comando de sua sabedoria.
Eu tenho a minha: posso ser a isca ou o pescador.
O peixe ou a garrafa pete que a rede trouxe à tona.
E daí... ótimos poetas agraciados em roupa de gala?
E daí... reverenciados autores em jeans gastos?
Vamos de mãos dadas, sem a euforia do orgulho.
Seu egoísmo me conquista, porque me dilacera, fico sereno
e inconformado...
Então, por isso e tudo isso, escrevo.
E a banana não tem mais preço de banana...
Prefiro simbolizar - com o risco de ser rechaçado - com o gesto vindo
do de repente.


 - - - - - - -                                     - - - - - - -                         - - - - - - -                                   - - - - - - -

distanci(a)mente§ (Ademir Esteves/jan/16)
A jugular do cidadão saltou
Vem o capitão em farrapos ordinários
atirando pedras nos olhos dele.
Lucius, um fulano cinza, balança a cabeça em negativa -
porém pende-lhe o pescoço para a glória.
Cidadão de olhos brancos, ajoelha
Vem o general em nudez apática
e lança o carrossel em torno dele.
Seu cardigã tem furos mórbidos...
Como numa fabular conquista o tamanduá digita:
-Eis a distância! Sem formigas minha língua estaca...
Transparecem outros animais falando nos idiomas castos.
Incitam suas gulas, seus delírios, suas veracidades
igual um canto que perdeu a harmonia.
As pernas do cidadão nauseiam a bílis dos que enxergam
e desmaiam sem sentido nas vistas inocentes.
Chegam os irracionais e cada qual cospe um rito:
- O que pensa, mente em mente, e o tenente é serviçal
que não sente, de repente, o sinal da pequenez!
Orgia final: baile para funerais e orações para os dançantes... 
Lá, onde se reúnem os máximos, um apenas solfeja uma oitava abaixo:
- Entrem para a roda!




mwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwmwm

Habilitado! (A.E/16)
Agora, quando tudo está claro
Mantenho a intenção de ter um amor definitivo.
Mas antes, acho que vou destravar os pinos das portas...
que andam tortas e enferrujadas.

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Cura! (A.E./16)
Cuida-me, enfermo das causas...
Um significado olhar ameniza a febre,
reconsidera inúmeras náuseas
e dissipa os gemidos. Celebre!
Pois a garantia de cura exata
está na alta que seu sorriso aufere,
está no toque onde a mão ataca
e beija-me a boca que o pulsar altere.
Cuida-me sempre, mesmo estando são;
nem que eu veja feito o desfecho no ato
de comprimir os braços no calor do chão.
Fica aqui, até que se torne fato!


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Para não dizer que não falei... (Ademir Esteves/fev/16)
Atravesso as paralelas 
assim que a tempestade tenta esvair-se pelas bocas de lobos
e não estão tão retas mais
curvaram-se, trincaram, o barro lapidou a sarjeta em escultura
ainda avisto serpentinas
repentinas massas pendentes dos fios elétricos
meus sapatos afundam no lodo e pisa latas
as cadelas retiram um a um os filhotes da marquise para o sol
do escampado
amamenta enfeitada por carrapichos
(são os caprichos da festa pagã)!
Querido bloco - de anotações - mais tarde darei cor às suas linhas
e sabe lá se ouvirei as harpas ou os violoncelos
porque os bumbos 'inda vibram...
A rua termina na passarela e posso identificar, mesmo sob o chapéu,
o homem da minha vida.
Agarro a esperança de um cuicar tristonho no peito
A cadela uiva ao reconhecer a morte de um filhote
Todos os sons, nessa silenciada montanha de cinzas
degustam o prazer da aproximação. Cada vez mais perto.
Estou atolado agora num buraco invisível - afundo!
Onde suas mãos? Quando me trarão para terra firme?
Descuido da atenção preciosa e a negra loira na janela
desafina Maysa:
"Manhã, tão bonita manhã..."
Sorrio. Rio. Feliz em pranto e canto.
Depois... Bem... Depois é só daqui a pouco.